sexta-feira, junho 09, 2006

Discografia Imprescindível 07 – Animals; Pink Floyd (1977)

Seria para mim fácil escolher outra qualquer obra dos Pink Floyd, pois a sua obra é de tal forma extensa e variada. Poderia escolher The Piper of Gates of Dawn, obra maior de Syd Barrett e do movimento psicadélico, mas, confesso que gosto mais de A Saucerful of Secrets. Outra escolha obvia seria o indispensável Dark side of the moon, o grande clássico dos Floyd, que os catapultaram para a fama. Talvez um dia escreva sobre esse disco. No entanto, escolhi o Animals por ter sido um disco marginal no obra da banda britânica e, sobretudo, por me ter marcado de sobremaneira na minha adolescência. Animals é uma obra violenta e agressiva, inspirada na obra de George Orwell, O triunfo dos Porcos. Isto surpreende porque seríamos levados a pensar que os Pink Floyd, com o tempo evoluiriam para uma música desdramatizada, quase mágica ou com ressonâncias espirituais. Nada disso. Os Floyd tornaram a descer à arena e lançam o seu veneno como nunca o tinham feito. A sua visão é dualista e política. Nós somos o que comemos, e comemos o que somos.
Dogs, para os quais a vida se resume a sobreviver e a conseguir o máximo de segurança a qualquer preço, mesmo que eles próprios se tenham de transformar em robots; são calculistas, agressivos e metem-se a fundo na corrida ao dinheiro e na procura do poder; a sua energia é investida no pragmático, o que é bastante fascinante; as sanções que a si próprios se atribuem são terríveis: insatisfação permanente e cancro!
Pigs (Three diferent ones), abanam a cauda mas são perigosos; reprimem sistematicamente os outros e a si próprios; merecem apenas a piedade; são inteiramente negativos;
Sheep, os carneiros que seguem o líder, são enganados, iludidos e mistificados, mas aceitam a sua situação com resignação; capazes de humor e espiritualidade, são no entanto eternamente passivos.
Roger Waters considera que se insere no grupo dos Cães e dos Carneiros; sublinha que os mais activos sãos os Porcos, com uma mentalidade assustadora. As revoluções são feitas pelos carneiros, inspirados pelos Porcos e contra o grupo de Cães.
Animals é musicalmente bem elaborado, difícil de ouvir, tendo como ponto alto Dogs. A arte, que para os marxistas não é um espelho mas sim um martelo, o golpe que nos é vibrado nesta produção animalesca entusiasmou a juventude da esquerda radical, a mesma que mais tarde viria a afirmar que não passava de um grito de um grupo de “pequeno-burgueses”. Vá lá alguém compreende-los…

1 comentário:

muguele disse...

Olha a "gralha" (é 1977).

Os Floyd, (a partir do "Dark Side..." de uma maneira mais directa, já que as músicas também passarem a sê-lo), sempre fizeram músicas com conteúdo político.
O grande "pecado" foi terem dito um dia que queriam ganhar dinheiro a fazer música. É óbvio que a esquerda radical não pode tolerar isto, que a arte quer-se miserável!
Por sinal, até sabemos que essa mesma "esquerda" não é nada burguesa, é lá agora!

Curiosamente, foi também por altura destas declarações que deixou de se ouvir o "boato habitual" que, ano após ano, assegurava a vinda dos Floyd à Festa do Avante do ano seguinte (era assim como o Sporting e o campeonato).