quinta-feira, outubro 01, 2009

Discografia Imprescendível 020 - Syd Barrett - The Madcap Laughs (1970)

Já muito se falou e escreveu sobre Syd Barrett e a sua obra. Génio, louco, visionário, são alguns dos epítetos que são atribuídos ao músico britânico. Não vou, obviamente, aprofundar muito a questão da genialidade, ou não, de Barrett. As opiniões dividem-se, defendendo alguns que Syd é dos criadores maiores da música pop-rock, afirmando outros que é impossível classificar tão curta obra com tão altos atributos. Na minha modesta opinião, Barrett foi sem duvida um dos mais criativos e sobretudo, dos mais inovadores músicos da cena pop-rock. O seu estilo de composição veio mudar radicalmente a forma como os ouvintes ouviam a música. As suas longas composições baseadas em improvisações sonoras ou, temas com uma carga poética intensa sobre temas nunca antes abordados no panorama musical.

São por demais conhecidos os motivos de saída de Barrett dos seus Pink Floyd. A instabilidade e inconstância de Syd era intolorável, e nem mesmo a solução tipo Beach Boys, em que Barrett comporia os temas e David Gilmour, que entretanto se tinha juntado à formação, resolveu a situação.

Em 1969 a EMI aprovou o pedido de Barrett para gravar o seu primeiro disco a solo, numa nova subsidiária, a Harvest. Os primeiros problemas surgiram com a dificuldade de encontrar alguém que estivesse disposto a produzir o disco. Ninguém acreditava realmente nos rumores que circulavam nos estúdios da EMI de Abby Road, que Syd tinha por hábito partir tudo dentro dos estúdios de gravação. O problema encontrava-se na inconstância de Barrett e no receio que tinham que o projecto fosse cancelado prematuramente. Alguns dos receios vieram a concretizar. Os músicos que participaram nas gravações, incluído Robert Wyatt dos Soft Machine, não conseguiam perceber as ideias de Barrett, e ainda menos acompanha-lo. Cada take era diferente. Syd mudava constantemente as letras, e o tempo das músicas, tendo obrigado a mudar o esquema de gravação. As partes de guitarra e de voz de Barrett eram gravadas primeiro e mais tarde os restantes músicos tentavam completar o resto. Nem sempre isso foi possível. David Gilmour e Roger Waters foram chamados para dar uma ajuda, visto serem das poucas pessoas que sabiam lidar com Syd. Mesmo assim a tarefa não foi fácil e na verdade pouco puderam ajudar. A generalidade dos temas saíram apenas com a voz e guitarra acústica de Syd porque se revelou impossível aos outros músicos compor algo baseada na estrutura base dos temas. Apesar de tudo, o disco contêm alguns temas brilhantes, como por exemplo, Octopus e Golden Hair, se bem que longe da qualidade geral das que foram produzidas com os Floyd.

As fotografias e o grafismo do disco foram mais uma vez realizados pela Hipgnosis de Storm Thorgorson and Aubrey 'Po' Powell. Nessa época, as capas dos discos eram feitas pelas próprias empresas discográficas, sendo pouco comum a atribuição externa de tais trabalhos. Os Beatles e os Pink Floyd foram as primeiras bandas da EMI a terem esse privilégio podendo assim o seu produto destacar-se da generalidade pela qualidade artística oferecida. A fotografia da capa foi tirada no apartamento de Barrett, pouco depois de ter pintado o soalho de madeira. Todos pensaram, ao ver aquela composição cromática, que daria uma boa fotografia para capa de disco.

As reacções não foram muito abonatórias, tendo inclusive passado algo desapercebido da generalidade dos críticos. No entanto, a reacção geral e o número de vendas permitiu partir para a gravação de um segundo disco.


Ponto de escuta:
Octopus

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