segunda-feira, abril 06, 2009

Discografia Imprescendível 016 - Current 93; Black Ships ate the Sky (2006)


Black Ships at the Sky é um daqueles discos de David Tibet, aka Current 93, que ninguém fica indiferente. Tem sido um longo caminho percorrido por Tibet, desde Nature Unveiled com os seus drones primitivos, passando pelo folk apocalíptico de Swastikas for Nody, até ao épico orquestral Thunder Perfect Mind, expoente máximo do “maximalismo” sonoro, a sua obra crescia exponencialmente em complexidade, percorrendo os trilhos da complexidade e das ideias ambiciosas. Depois de Thunder Perfect Mind, o número de elementos veio a decrescer e descartando as camadas sonoras. Álbum após álbum o minimalismo musical ganhou consistência, apresentando menos instrumentistas e construções musicais mais simples. Com esta simplicidade, Tibet privilegiou os seus textos e ideias, sendo a música um mero veículo para as transmitir. Soft Black Stars foi o culminar do trilho minimalista onde Tibet pouco mais faz do que declamar poesia acompanhado de piano. Com o sucesso alcançado, Tibet voltou a ganhar confiança para voltar a elaborar mais a composição mas dando ainda mais ênfase na letra.

Black Ships Ate the Sky é um épico ao nível de Thunder Perfect Mind, com um conjunto de músicos novamente alargado. Destes, destacam-se os nomes de Michael Cashmore na guitarra, um colaborador de David Tibet de longa data, que tocou em metade do disco; Bem Chasny (sim, o do Six Organs of Admittance) que tocou na segunda metade do álbum; John Contreras no violoncelo; Antony no piano; William Breeze (dos Coil e dos Psychic Tv) na viola; William Basinski nas electrónicas e Stephen Stapleton na manipulação sonora. Melhor companhia deve ser difícil de se arranjar.

O álbum conta com 21 temas e 75 minutos de duração, mas parece apenas ter 10 ou 15, tal é a intensidade musical do disco. O ouvinte é agarrado logo no primeiro tema, Idumaea, uma velha peça apocalíptica escrita por Charles Wesley, e só volta a respirar após o último folgo inalado por Tibet.

O título, Black Ships ate the Sky, não deixa de ser curioso, mais parecendo ter saído de um romance de Philip K. Dick, mas que com David Tibet, parece ganhar uma aura de misticismo de caris pastoral que pelo meio se transforma num tormento apocalíptico. Baseado num sonho recorrente em que naves negras invadem o céu, na verdade actua com catalítico da chegada do Anti-Cristo e a segunda chegada de Cristo à terra. Apesar do álbum apresentar uma mensagem muito pessoal, a forma como é apresentado e a estrutura individual de cada tema, faz de Black Ships… um objecto acessível e aberto a diversas interpretações. É alias essa (na minha opinião) a grande riqueza do trabalho de Tibet e deste disco. Musicalmente, Tibet assumiu um risco que poucos ousariam correr, ao construir nove versões diferentes de um mesmo tema. Mas verdade seja dita, essa receita funciona e serve de âncora para todo o álbum. Os arranjos, que vão desde os simples sons de guitarra até ás orquestrações mais complexas, a coesão conseguida é única e cativante, deixando o ouvinte constantemente suspenso nas palavras bem como nos sons.
Ponto de escuta:
This Autistic Imperium Is Nihil Reich



This autistic Imperium
With paint and spick and span
Is Nihil Reich
Whilst wine calls meat
My friend at teatime
Wonders at the weight
Of the armies that wait
For Golden Caesar
Have face of Beast
With lips of long love wasted
In Trojan seas
I called God on the phone
Just yesterday and spoke to Breathface
He told me death arises for Bloodface
Doctor without possibilities of crime
(Let's call that "pixie time")
To make light of the shouting in my head
I want to have lunch with the Umbrella Ladies
I want to make love with the Umbrella Ladies
Who inhabit the stealing time
I got this from the night-owl singing
"Policeman, policeman, is there anyone there?"
If the Great Turk eats Empire
Well is that countdown?
Or just Twinkletoes eating his face?
Whilst the wicked incense batters the church
Outside the church
Outside the church walls
Bloodface waits
He is twisting time
And selling sweets to sweethearts
Who have painted mountains for money
They sell their bodies to the Ice Cream Queens
Autistic Imperium
You have arisen as a way of cutting the Centre
Out of this world
Christ made a dance
Which turned into a trance
A thousand pick-axes are stored in Babylon
Destroyer? Nihil Reich?
Empty as the face
I saw when I awake with eyes as big as bugs
God made a nothing of nothing
He called the swans to roost in the ruins
Of fast-food lakes
And I say like Lazarus I arise in time
For tea and toast and judgement
And all that stuff that rests in the land of Jack and Jill

2 comentários:

rita disse...

cada palavra fere de tão bonita. é assim david tibet.

franciscarlos ramalho disse...

current 93 é muito bom !!!