terça-feira, dezembro 02, 2008

A mãe que matou os três filhos à machadada

Perdeu-se na memória a tradição dos cegos papelistas, que por mercados, feiras e romarias, contavam histórias bizarras, notícias macabras, adivinhações e prognósticos. No século XVIII, os cegos papelistas vendiam estas e outras histórias impressas em folhetos de papel de fraca qualidade, por vezes com imagens para ajudar a ilustrar as palavras que contavam, pouco imaginativos na forma, repetindo incessantemente fórmulas de receita garantida. Aproveitando a suposta sabedoria e justeza que normalmente é atribuída ao cego, declamavam ao som da rabeca e do harmónio a matéria informativa que oscilava entre a crendice e as tragédias. Mais recentemente, era frequente usar as melodias popularizadas pela rádio que eram truncadas com as notícias mediáticas da altura, A mãe que matou os três filhos à machadada; O coveiro de Pínzio que desenterrava os mortos para lhes tirar a roupa; A Maria da Graça que foi enganada pelo Manuel Celestino e atirou o filho recém-nascido para o telhado.
Ao longo do século XX, o cego, papelista e cantor, praticamente desapareceu indelevelmente, submerso nas mutações dos tempos. O cego desapareceu do imaginário colectivo restando apenas memórias nos mais velhos e alguns textos antigos em algumas (poucas) bibliotecas.

1 comentário:

Anónimo disse...

não desapareceu totalmente essa tradição, ficou foi no museu http://asonante.blogspot.com/2007/01/las-coplas-del-ciego.html