quinta-feira, setembro 17, 2009

Aleph at Hallucinatory Mountain, Current 93

A mitologia de David Tibet cresce no sentido esotérico a cada novo álbum, uma mistura da sua interna imaginação do terror bíblico. A sua música reflecte isso mesmo, do noise ao industrial, passando psicadélico e mesmo pelo post-rock, nunca se fixando num estilo, antes, moldando os diferentes estilos em peças com características únicas. Alepth At Hallucinatory Moutain, é, mais uma vez, o espelho da personalidade de Tibet, uma amálgama de sonoridades compostas em camadas, caminhando novamente no sentido da complexidade extrema, provocando tensão e atenção através da manipulação dos sons sobrepostos. É impossível o ouvinte permanecer indiferente à dimensão sonora deste disco, mesmo e quando não consegue abarcar toda a complexidade da estrutura da composição. O disco no seu todo funciona, na realidade, como uma peça única, não existindo verdadeiramente quebras na linearidade do conceito. E, mesmo, se em algumas ocasiões parece existir uma pausa na intensidade dramática da música, ela na verdade encontra-se deslocada propositadamente para apanhar o ouvinte desprevenido e assim o puder manipular.

Mas mais importante do que a música, que é sem duvida brilhante a todos os níveis, o verdadeiro génio de Tibet, reside na mensagem escrita. A esse nível, este álbum é, sem duvida um dos mais intensos que ouvi este ano. Definitivamente, este não é um disco para ser ouvido no verão, com tempo quente e praia. A escuridão fica-lhe bem, pensava eu, como em quase todos os seus trabalhos. “Almost in the begininning was the murderer”, as palavras iniciais do tema de abertura, são ditas no sentido de abrir as portas do mundo profundo e negro de Tibet, onde habitam as duvidas e desejos, o sublime e o medo, o racional e o terror da própria existência.

A paisagem lírica de Tibet, mítica, bíblica e onírica, proporciona por si só, diversas interpretações e, seguramente, permite ao ouvinte vogar em pensamentos, por vezes dispares dos intencionados pelo autor. O real objecto encontra-se por de trás das palavras não pronunciadas, escondidas na aridez da paisagem sonora. A cada nova porta aberta, outras se fecham em par, e paredes de refúgio são erguidas em altura.

Num álbum épico como este, é virtualmente impossível de sintetizar todas as ideias e conceitos, e sobretudo, todos pormenores que se encontram na música e nas letras de Tibet. É um trabalho impressionante desde os primeiros momentos até aos sons finais. Em todas as audições que efectuei deste disco, retive a sensação de exaustão mental, tal a intensidade do registo. Tibet é um ente criativo com a habilidade de manipular as emoções do ouvinte, e sentimo-nos bem por isso…

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