quarta-feira, novembro 11, 2009

U2, sem dinheiro no horizonte!

Definitivamente as coisas não estão a correr bem aos U2. Esta deve ser a primeira vez que escrevo sobre a banda irlandesa, tenda que confessar que, apesar de reconhecer a qualidade geral do seu trabalho, não sou grande apreciador das músicas e que, devo ser das poucas pessoas que não tem um único disco da banda. Mas dizia eu, que as coisas não têm corrido bem à formação de Bono e companhia. A última polémica envolve o mini concerto realizado em Berlim, nas Portas de Brandenburg, no local onde existiu o famigerado muro da vergonha. Pois, a polémica reside no facto da organização do concerto, os U2 e a MTV, para proteger o local e impedir as pessoas de assistirem gratuitamente ao concerto, ergueram uma barreira com cerca de 2 metros de altura. Apenas 10 mil pessoas puderam assistir em ao vivo o espectáculo, tendo a MTV transmitido posteriormente. A polémica instalou-se em torno do concerto e da barreira criada no coração de Berlim. Muitos fãs da banda pensaram que o concerto seria de borla, pelo que se deslocaram até à capital alemã para assistirem ao espectáculo. No entanto a revolta maior surgiu por parte dos berlinenses que viram de um dia para o outro um novo muro ser erguido na sua cidade. Os alemães, e especialmente os berlinenses sofrem ainda do trauma da divisão do seu país e da sua cidade. Numa altura em que se festeja a queda do muro, realmente não faz grande sentido erguer uma nova barreira numa cidade ainda profundamente marcada pela exclusão e divisão. Uma banda que tanto tem apregoado a paz e união entre os povos, caiu desta vez numa armadilha no mínimo lamentável.

Convenhamos que o ano não tem corrido particularmente de feição à banda. O seu novo disco, No Line On The Horizon, não tem vendido o esperado, nem tem convencido ninguém quanto à sua qualidade musical, nem mesmo aos fãs mais “fanáticos”. Os temas do disco não passam nas rádios, tendo a própria editora dificuldades em escolher singles para promover o álbum. Em contrapartida, os concertos realizados pelos U2 nos Estados Unidos têm sido um sucesso, pelo menos a acreditar no número de espectadores que já assistiram ao espectáculo. A digressão da banda irlandesa tem batido todos os recordes, quer seja em termos de ordem de grandeza de bilhetes vendidos, quer seja na monumentalidade do palco, do som, da luz utilizada e na pegada ecológica que deixam atrás de si. Outra das críticas que os U2 têm sido alvo é precisamente a pegada ecológica que deixam por onde passam, nomeadamente por parte de grupos ambientalistas, lembrando a hipocrisia, sobretudo de Bono, que apregoa a defesa do meio ambiente nos meios de comunicação e que depois, só para dar um exemplo, gasta tanta electricidade num concerto como um pequena cidade, para já não falar das toneladas de lixo produzido pela equipa da digressão e da quantidade de CO2 produzido. Sim, já houve alguém que fez essas contas todas.

Para além de tudo isto, junta-se o facto de a digressão estar a dar prejuízo. Tudo é incomensuravelmente grande, e as contas também. Bono já afirmou, que será uma sorte se no fim da digressão ainda tiver casa. Devido às características da estrutura do palco, o espectáculo só pode ser realizado em espaços abertos, nomeadamente, em estádios, sendo impossível a sua realização em recintos cobertos. Ora nesta altura do ano, e durante todo o inverno, é praticamente impossível a realização de concertos no hemisfério norte. Os Rolling Stones há alguns anos atrás debateram-se com o mesmo problema, tendo optado por efectuar concertos em salas pequenas, fazendo assim espectáculos mais intimistas, e sobretudo, mais rentáveis. Não tendo a necessidade a recorrer a todo o aparato visual utilizado nos espectáculos em grandes estádios, a logística tornou-se mais simples e mais barata, podendo actuar mais vezes e ganhar tornando o negócio mais rentável. Os espectadores, na minha modesta opinião, saíram igualmente a ganhar, quer em termos de comodidade, quer em termos de interacção e proximidade como a banda. Os U2 sofrem do mesmo mal que outras bandas sofreram no passado, a necessidade de oferecer um espectáculo cada vez mais elaborado, mais evoluído tecnologicamente, com palco maior, com mais luz e som e som que o da banda “vizinha”. Aparentemente, esta “mania” da grandeza atingiu um ponto de difícil retorno, onde tudo é demasiado grande, demasiado caro, e onde a música se perde um pouco no meio de todo o aparato técnico e visual.

O número de bandas a realizarem mega concertos em grandes estádios tem vindo a diminuir ao longo dos anos. Nos anos 70 e 80, a necessidade cada vez maior de oferecer espectáculos mais complexos, repletos de luz, cor, imagens projectadas e até bonecos insufláveis, para cada vez mais gente, conduziu a um progressivo afastamento do público e dos músicos. Os artistas tinham que ser autênticos malabaristas e para serem notados na imensidão do palco. Outros, até pela sua postura mais discreta, passavam despercebidos, sendo apenas mais um “objecto” em cima do palco. Em termos meramente pessoais, e já tendo tido a oportunidade de assistir a concertos em estádios, prefiro de longe as salas de pequena ou média dimensão, pela comodidade, e principalmente pelo contacto mais directo com os artistas.

1 comentário:

muguele disse...

Concordo com tudo. Já deixei a minha opinião sobre a enormidade incoerente dos concertos do U2 no fórum da Blitz mas descobri que o pessoal se está nas tintas para a mensagem e, pasme-se para a qualidade com que vêm os concertos e, consequentemente, ouvem a música. O povo quer é espalhafato. Quanto mais, melhor. A prová-lo está a velocidade com que se esgotam os bilhetes. Para mim é triste quando o espectáculo se sobrepõe à música. Para a maioria das pessoas parece que não. Para os U2, pelos vistos também não.