
O The Wall faz hoje 30 anos e como já referi no primeiro artigo que escrevi sobre os trinta anos do disco dos Pink Floyd, não é dos meus preferidos da banda. O The Wall foi, a par do The Final Cut, o primeiro contacto que tive com a banda, tendo a sonoridade e a história marcada a minha juventude. No final dos anos 70, o movimento punk com as suas músicas de 3 minutos, abalou os alicerces do rock progressivo, e já praticamente já ninguém ouvia as longas suites de 20 minutos. As rádios optavam por passar músicas curtas e de fácil audição, descartando as velhas bandas progressivas e psicadélicas. A recessão económica, o desemprego, as tenções sociais e inicio da governação de Tatcher, conduziram a um afastamento dos ouvintes das musicas ditas progressivas com os seus contos de castelos encantados e de duendes enfeitiçados, os jovens procuravam melodias mais simples, rápidas e politicamente activas. Das bandas progressivas (confesso que tenho alguma dificuldade em incluir os Floyd nesse grupo), os Floyd foram das poucas formações que apresentaram músicas de cariz social e político. Com o álbum Animals, 1977, os Pink Floyd desceram à arena com um disco profundamente político e violento baseado no Triunfo dos Porcos de Orwell, numa altura em que seria confortável apresentar melodias de cariz espiritual. Os Floyd, pela caneta de Waters, foram mais virulentos do que nunca, apresentando uma visão negra e sem esperança da sociedade, caracterizada de forma animalesca. No entanto, Animals é um disco difícil de ouvir, com músicas longas e estruturadas. O The Wall é aprofundamento da história de Animals.
É do conhecimento geral que Waters teve a ideia de realizar o The Wall durante a digressão In The Flesh?, que promovia o Animals, quando cuspiu um fã que não parava de gritar. O distanciamento entre a banda e o público crescia na mesma proporção do aumento das vendas dos discos. Os Floyd passaram dos pequenos concertos no clube UFO para os grandes estádios. O Dark Side of The Moon tornou-se um fenómeno de vendas catapultando a banda para espectáculos necessariamente maiores e elaborados. O público era agora uma massa amorfa e distante, e a música, no meio de tudo isto, encontrava-se em segundo plano. Waters imaginou o bombardeamento da assistência, e esse momento de catarse deixou marcas profundas na sua mente.
Em 78 Waters apresentou aos restantes colegas dois projectos, um que foi rejeitado e que viria a tornar-se no seu primeiro disco a solo, The Pros and Cons of Hitch Hicking
, e o que viria a ser o The Wall. Waters partiu dos traumas de infância, a morte do seu pai na segunda guerra mundial e a escola autoritária, e os problemas vividos na sua carreira musical. Pelo meio, voltou ao tema principal de Animals e desenvolveu-o. Ao contrário do que muita boa gente afirmou ao longo dos últimos trinta anos, o The Wall não é uma história biográfica de Waters, bem pelo contrário. Segundo o mesmo, muitos elementos da história foram inspirados em acontecimentos vividos por outras pessoas, nomeadamente, Syd Barrett, sem dúvida uma grande fonte de inspiração. A sua mãe, recentemente falecida, embora protectora, não era na realidade como Waters a caracterizou. E quanto à escola, Waters afirma ter tido bons professores, que o incentivaram no percurso das artes, nomeadamente, no caminho da arquitectura. Contudo, Waters sentia que a escola, de uma forma geral, era repressora e que limitava a liberdade das crianças. A principal fonte de inspiração para a construção da história, a partir de um conto de Jean Paul Satre, O Muro, e das suas personagens. O resto da história advém das contingências vividas na sua carreira musical, as digressões, o afastamento da família, a necessidade de produzir e de vender cada vez mais. O isolamento aumenta, e numa reacção de auto-preservação, Waters ergue um muro (simbólico) de protecção da sua personalidade. Com os acontecimentos sucedidos durante a última digressão, Waters vê-se como mestre de cerimónias, Goebels em pessoa, a comandar uma horda de fascistas, numa alusão directa aos perigos reais do retorno das ideologias ditatoriais e os problemas sociais vividos no Reino Unido com o governo conservador de Thatcher. No epílogo, o muro é destruído e finalmente Waters pode expor os seus sentimentos.
O The Wall representa a loucura, a morte, o fim de uma era e o fim de uma banda. Este foi o último dos grandes álbuns conceptuais. Depois deste, nenhum outro disco conceptual alcançou tanto sucesso. As finanças da banda em 77 não estavam no seu melhor. No ano anterior, a banda envolveu-se em negócios de alto risco com a Norton Warburg Group que se tornaram seus agentes, com o objectivo de reduzir a carga fiscal no Reino Unido. Contudo, a banda perdia dinheiro com o negócio, em parte devido a esquemas fraudulentos da NWG. Os Floyd viriam a processar o grupo que viria a falir na década de 80. O meio musical virou-se para produtos de consumo rápido e os Pink Floyd precisavam urgentemente de ganhar dinheiro. Waters e companhia sabiam disso e contrataram Bob Ezrin, por sugestão da namorada de Waters, Carolyne Christie, que era secretária de Ezrin. Bob Ezrin produzira anteriormente álbuns para Alice Cooper, o Berlin de Lou Reed e Destroyer de Peter Gabriel, trazia consigo a visão comercial para transformar o disco num sucesso de vendas. Ao contratar Ezrin, Waters pensava que o podia controlar facilmente e impor assim as suas ideias, mas Bob desde inicio teve a habilidade de contornar as ideias de Waters. O sucesso comercial de Another Brick in The Wall em muito se deve à visão de Ezrin, tendo ainda colaborado na composição de The Trial. Os conflitos entre Waters e Ezrin, bem como com os restantes membros da formação, foram muitos, tendo Bob afirmado que foi das experiencias mais traumáticas que teve. Ezrin não voltaria a trabalhar com Waters, mas co-produziu o segundo disco a solo de David Gilmour bem como os álbuns dos Floyd pós Waters.
A capa e o grafismo assumem um design minimalista, sendo constituído por um desenho de uma parede, sem logótipo nem o nome da banda. A concepção gráfica ficou a cargo de Gerald Scarfe, cartoonista político. Foi o primeiro disco dos Floyd que não teve a colaboração de Storm Thorgerson e da Hipgnosis, devido a disputas com Waters sobre autoria do conceito da capa do álbum Animals.
Apesar de o duplo álbum representar um marco na carreira dos Pink Fl
oyd, sendo um dos mais vendidos da banda, e sendo uma referência inequívoca na cena musical a nível mundial, o The Wall não é dos trabalhos mais bem aceites pelos fãs dos Floyd. Muitos vêm o disco como uma concessão da banda ao mercado, com as suas músicas curtas e com melodias mais comerciais do que as dos álbuns anteriores. Em abono da verdade, The Wall apresenta um punhado de boas ideias, mas que infelizmente não foram suficientemente bem desenvolvidas, devido em parte à extensão da história em si e às pressões vindas da esitora. Por ainda estarmos no tempo do vinil, e por ser difícil convencer a editora a produzir um triplo álbum (já era difícil produzir um duplo), as ideias foram simplificadas ao máximo. No entanto, o trabalho de produção e a brilhante engenharia sonora a cargo de James Guthrie, converte o disco num dos melhores produtos da banda. Apesar da relutância de Waters, são extraídos vários singles do disco, tendo Another Brick in The Wall atingido o primeiro lugar de vendas em diversos países. Era o regresso dos Pink Floyd aos singles, algo que já não acontecia há muitos anos, e aos quais, os Floyd nunca estiveram muito à vontade. A canção chegou a ser proibida na África do Sul, porque os estudantes negros a adoptaram como hino do seu boicote ao sistema. Nos anos 70, durante apartheid, a educação de cada criança negra – que a preparava não para a universidade, mas aos trabalhos braçais – custava ao Estado apenas um décimo de cada criança branca. Na época, estava em vigor a política da “Educação Bantu” (criada em 1953), a qual impunha: o Afrikaans como a língua de educação para os negros, escolas separadas, salas de aulas superlotadas e professores com péssima formação. A letra dá voz aos estudantes que dizem não precisar de educação (no caso, aquele tipo de educação a que estavam sujeitos) e de nenhum controle de pensamento. O tema foi igualmente proibido no Reino Unido pelo governo de Margaret Thatcher, tendo Waters afirmado que tal acto constituia uma “verdadeira afronta à postura hipócrita da moral e da sociopolítica da Coroa Inglesa”.
Apesar do sucesso comercial de Another Brick in The Wall, Comfortably Numb é apontado como o melhor tema do álbum, sendo o solo de guitarra de Gilmour como um dos melhores de sempr. Comfortably Numb representa a catarse final da banda, mostrando em última analise que o resultado da colaboração entre os membros da banda (neste caso Gilmour e Waters) é melhor do que o resultado do esforços individuais. Rick Wright que se debatia com uma depressão devido ao processo de divorcio e à má situação financeira em que se encontrava, acaba por ser despedido a meio das gravações. Wright gravava as suas seções sozinho e raramente se encontrava com os restantes membros, tendo chegado a recusar a interropção das suas férias para voltar ao estudio devido a atrasos nas gravações. Todos os elementos da equipa estavam saturados desse comportamento, e mesmo Gilmour, que inicialmente o protegeu, via-se agora impelido a despedir Wright. Este processo foi abafado da imprenssa, com o objectivo de proteger Wright, tendo sido posteriormente contratado como músico para a digressão, sendo o único que ganhou algum dinheiro na saga The Wall.
The wall representa o fim de uma era, a dos discos conceptuais, um marco na música anglo-saxónica, na carreira dos Pink Floyd e o seu fim e da. The Wall representa a loucura em toda a sua extenção. A loucura pessoal, a política, a social e a económica. Em algumas destas partes (ou em todas), todos nós nos revimos, e essa a força que The Wall tem: todos nos identificamos com Pink, a personagem atormentada da história. Os responsáveis da editora não ficaram entusiasmados com o disco, tendo ficado, no entanto, mais agradados com o resultado das vendas. O disco foi criticado por todos os sectores da sociedade, mas todos compravam o disco e conheciam as letras das músicas. A direita considerava que a mensagem constituía uma ameaça à sociedade, acusando-o de ser propaganda de esquerda, a esquerda, sobretudo pela mão dos elementos da juventude comunista, acusava Waters e o seu disco, de ser um manifesto reaccionário da pequena burguesia. Seja qual for a interpretação que cada um faça, The Wall representa o testemunho pessoal, de um individuo atormentado e com o qual muitos se identificam. Mas não foi isso que os Floyd sempre apresentaram nos seus discos?...
É do conhecimento geral que Waters teve a ideia de realizar o The Wall durante a digressão In The Flesh?, que promovia o Animals, quando cuspiu um fã que não parava de gritar. O distanciamento entre a banda e o público crescia na mesma proporção do aumento das vendas dos discos. Os Floyd passaram dos pequenos concertos no clube UFO para os grandes estádios. O Dark Side of The Moon tornou-se um fenómeno de vendas catapultando a banda para espectáculos necessariamente maiores e elaborados. O público era agora uma massa amorfa e distante, e a música, no meio de tudo isto, encontrava-se em segundo plano. Waters imaginou o bombardeamento da assistência, e esse momento de catarse deixou marcas profundas na sua mente.
Em 78 Waters apresentou aos restantes colegas dois projectos, um que foi rejeitado e que viria a tornar-se no seu primeiro disco a solo, The Pros and Cons of Hitch Hicking

O The Wall representa a loucura, a morte, o fim de uma era e o fim de uma banda. Este foi o último dos grandes álbuns conceptuais. Depois deste, nenhum outro disco conceptual alcançou tanto sucesso. As finanças da banda em 77 não estavam no seu melhor. No ano anterior, a banda envolveu-se em negócios de alto risco com a Norton Warburg Group que se tornaram seus agentes, com o objectivo de reduzir a carga fiscal no Reino Unido. Contudo, a banda perdia dinheiro com o negócio, em parte devido a esquemas fraudulentos da NWG. Os Floyd viriam a processar o grupo que viria a falir na década de 80. O meio musical virou-se para produtos de consumo rápido e os Pink Floyd precisavam urgentemente de ganhar dinheiro. Waters e companhia sabiam disso e contrataram Bob Ezrin, por sugestão da namorada de Waters, Carolyne Christie, que era secretária de Ezrin. Bob Ezrin produzira anteriormente álbuns para Alice Cooper, o Berlin de Lou Reed e Destroyer de Peter Gabriel, trazia consigo a visão comercial para transformar o disco num sucesso de vendas. Ao contratar Ezrin, Waters pensava que o podia controlar facilmente e impor assim as suas ideias, mas Bob desde inicio teve a habilidade de contornar as ideias de Waters. O sucesso comercial de Another Brick in The Wall em muito se deve à visão de Ezrin, tendo ainda colaborado na composição de The Trial. Os conflitos entre Waters e Ezrin, bem como com os restantes membros da formação, foram muitos, tendo Bob afirmado que foi das experiencias mais traumáticas que teve. Ezrin não voltaria a trabalhar com Waters, mas co-produziu o segundo disco a solo de David Gilmour bem como os álbuns dos Floyd pós Waters.
A capa e o grafismo assumem um design minimalista, sendo constituído por um desenho de uma parede, sem logótipo nem o nome da banda. A concepção gráfica ficou a cargo de Gerald Scarfe, cartoonista político. Foi o primeiro disco dos Floyd que não teve a colaboração de Storm Thorgerson e da Hipgnosis, devido a disputas com Waters sobre autoria do conceito da capa do álbum Animals.
Apesar de o duplo álbum representar um marco na carreira dos Pink Fl

Apesar do sucesso comercial de Another Brick in The Wall, Comfortably Numb é apontado como o melhor tema do álbum, sendo o solo de guitarra de Gilmour como um dos melhores de sempr. Comfortably Numb representa a catarse final da banda, mostrando em última analise que o resultado da colaboração entre os membros da banda (neste caso Gilmour e Waters) é melhor do que o resultado do esforços individuais. Rick Wright que se debatia com uma depressão devido ao processo de divorcio e à má situação financeira em que se encontrava, acaba por ser despedido a meio das gravações. Wright gravava as suas seções sozinho e raramente se encontrava com os restantes membros, tendo chegado a recusar a interropção das suas férias para voltar ao estudio devido a atrasos nas gravações. Todos os elementos da equipa estavam saturados desse comportamento, e mesmo Gilmour, que inicialmente o protegeu, via-se agora impelido a despedir Wright. Este processo foi abafado da imprenssa, com o objectivo de proteger Wright, tendo sido posteriormente contratado como músico para a digressão, sendo o único que ganhou algum dinheiro na saga The Wall.
The wall representa o fim de uma era, a dos discos conceptuais, um marco na música anglo-saxónica, na carreira dos Pink Floyd e o seu fim e da. The Wall representa a loucura em toda a sua extenção. A loucura pessoal, a política, a social e a económica. Em algumas destas partes (ou em todas), todos nós nos revimos, e essa a força que The Wall tem: todos nos identificamos com Pink, a personagem atormentada da história. Os responsáveis da editora não ficaram entusiasmados com o disco, tendo ficado, no entanto, mais agradados com o resultado das vendas. O disco foi criticado por todos os sectores da sociedade, mas todos compravam o disco e conheciam as letras das músicas. A direita considerava que a mensagem constituía uma ameaça à sociedade, acusando-o de ser propaganda de esquerda, a esquerda, sobretudo pela mão dos elementos da juventude comunista, acusava Waters e o seu disco, de ser um manifesto reaccionário da pequena burguesia. Seja qual for a interpretação que cada um faça, The Wall representa o testemunho pessoal, de um individuo atormentado e com o qual muitos se identificam. Mas não foi isso que os Floyd sempre apresentaram nos seus discos?...
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