quarta-feira, fevereiro 24, 2010

The Calcination of Scout Niblett

Ao sexto disco, Scout Niblett entra num registo ainda mais intimista e solitário do que nos restantes trabalhos. A sua música sempre apresentou essas características, mas neste novo disco, o som de Niblett atinge um novo patamar de angústia, revelando uma mulher disposta a sofrer. Em abono da verdade, parece disposta a sofrer aparentemente por qualquer coisa, das coisas triviais, às mais complexas situações da existência humana. Aliás, o título do disco diz tudo: The Calcination of Scout Niblett. À primeira vista, o título remete para a alquimia, no sentido de purificação através do fogo. O que revela ser na realidade, é um processo de introspecção, uma catarse à mente, que deixa marcas na carne, não só do ouvinte, bem como da própria autora.

A música surge sobre uma forma “despida”, mais crua do que em trabalhos anteriores, onde cada nota de guitarra, na sua fragilidade conceptual, revela a linha invisível entre a sanidade e demência. A voz acompanha o registo instrumental, ou seja, surge de uma forma expressiva mas simultaneamente crua, terna na sua generalidade mas com acessos de raiva.

A estrutura musical dos temas de Niblett quase sempre são pautadas pelo livre desenrolar das ideias, que por vezes assumem um cariz caótico, com distorções pesadas, intercaladas por passagens minimalistas, que apenas servem de catapulta para novos momentos de distorção e catarse. Este novo disco não foge à regra. Contudo, e como já havia acontecido no trabalho anterior, Niblett apresenta alguns temas com uma melodia que fica pendurada por muito tempo no ouvido dos ouvintes. I.B.D. e Duke of Anxiety são bons exemplos disso mesmo. Diria que estes dois temas permitem adensar a intimidade com o disco e com a sua autora, tornando-se fascinante e simultaneamente desconfortável, por estarmos a entrar no lado mais íntimo de Niblett. E isso é realmente interessante….


Video: I.B.D.

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