
Asleep on the Floodplain, podemos afirmar de uma forma muito simplista, que fica a meio caminho entre a fase eléctrica e a fase acústica que caracterizou os primeiros momentos (e quem sabe, os melhores) momentos do projecto Six Organs. Aqui encontramos as duas faces de Chasny. Após as primeiras audições, fiquei com a sensação de que os temas não cantados superam os cantados. O trabalho com a guitarra, acústica e eléctrica, parece superar, em termos puramente emocionais, os temas em que Chasny emprega a sua voz. No entanto, tal como em todos os álbuns de Chasney, este tem que ser ouvido como um todo, e é aqui que entra a importância da voz e das palavras. Tal como em registos anteriores, Chasney “brinca” com a voz, usando-a de uma forma muito peculiar. As vocalizações permanecem no subconsciente do ouvinte muito depois de deixarmos ouvir o disco. Tal como em Schools of Flowers (entre outros) as vocalizações são usadas umas contras as outras, criando um registo quase imperceptível.
Como acima referi, o álbum deverá ser ouvido como um todo, quase como uma única, longa peça instrumental, onde ao contrário do projecto Rangda, a melodia circular e lenta, se impregna no cérebro, chegando mesmo a causar dependência auditiva. Tal como em discos anteriores, os títulos dos temas ajudam a conduzir o ouvinte em determinada direcção, mas não de forma obrigatória. Em Asleep on the Floodplain, Chasney remete-nos para presença/ ausência de água. Above a Desert I've Never Seen," "Brilliant Blue Sea Between Us," "Saint of Fishermen," "River of My Youth," "S/word and Leviathan, e o próprio titulo do álbum, conduzem-nos para o elemento água. Em diversas entrevistas, Chasney tem mencionado ser influenciado pelos escritos de Gaston Bachelard sobre os elementos e as referências a processos elementares e cósmicos, algo que afunda nos seus discos. Para quem gosta da música de Chasney é interessante ler as suas entrevistas e os seus escritos, pois permite o ouvinte entrar mais profundamente no seu discurso metafísico e musical, onde o mito e a filosofia acasalam com a poesia.
Voltando à música, propriamente dita, destaco o tema S/Word and Leviathan, o mais longo, com mais de 12 minutos, que quando começa parece que já vai a meio. O tema não tem notas de abertura, não tem introdução, apenas o dedilhar circular de guitarra e vozes xamânicas sussurradas de Ambrogio e do próprio Chasney. Este parece invocar o caos, a própria génese do universo que tantas vezes Chasny apregoa. Curioso é o fim do tema, em Chasney toca uma linha de guitarra eléctrica em tudo semelhante à da linha introdutória do tema Sorrow criada por um certo David Gilmour para uns certos Pink Floyd… Mas isto é apenas conversa, pois entre misticismo, teologia, filosofia pós- estruturalista, magia, quem sabe exactamente o que se passa na cabeça de Chasny…
Ponto de escuta: S/Word and Leviathan
08 - SWord and Leviathan by sonsmusica
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